M A R I A N A ,  B E R N A R D O  &  A L I C 

Alice foi muito programada, desejada e esperada. Bernardo chegou de surpresa, antes mesmo da oficialização do casamento. 

Duas histórias tão distintas, dois amores tão intensos e que não cabem em mim.  É o coração que bate fora do peito. Duas vezes.

Ao mesmo tempo em que sei que sou a melhor mãe que poderia ser para cada um deles, sou muito diferente hoje que há quase cinco anos, quando engravidei do Bernardo.

Com muito medo de todas as complicações que uma gravidez pode ter, optei por um ambiente completamente controlado, onde os profissionais que me acompanharam, muito competentes, eram especialistas em gestação de alto risco. A cada consulta, praticamente quinzenais, um novo ultrassom, feito pelo mesmo médico que me acompanhava.

Eram muitos medos, muitas dúvidas, muitas histórias assustadoras e pouca, pouca informação. 

Com 38 semanas vieram os primeiros pródomos (as contrações de treinamento mais intensas que irão dar início ao parto em algumas horas ou algumas semanas).

Medo. Emoção. Desconhecido. Tomaram conta de mim.

Como desenvolvi diabetes gestacional - embora estivesse totalmente sob controle devido à excelente equipe multidisciplinar que me acompanhava - achava que todo cuidado era pouco. Acordei o médico no meio da noite para ir ao hospital me examinar. Nem sinal de trabalho de parto. 

No entanto, já estávamos ali, pródomos iniciados, o médico sugeriu uma cesárea. Desnecessária.

Bernardo nasceu às 4h08 da manhã, muito bem, saudável e cercado de amor e cuidados. 

Já com Alice tudo foi diferente. Havia refletido muito sobre minha gestação anterior.

Optei, desta vez, por um acompanhamento médico mais tranquilo, mais leve, sem tantos cuidados e tensão como o anterior, mas igualmente seguro. Diria que mais condizente com minha situação de paciente sem nenhum indicativo de risco. Nem a diabetes gestacional eu desenvolvi. Precisei de um repouso no final da gestação e progesterona por causa de contrações de treinamento doloridas. Era meu corpo pedindo para desacelerar. Explicando-me que estava gerando uma vida, não dava para ter o mesmo ritmo de antes. Ouvi. Parei. Respeitei. Voltei às minhas atividades gradativamente, mas sem o mesmo pique. 

Com isso, Alice chegou com 40 semanas e dois dias de gravidez. Depois de uma bolsa rota 1h da manhã. Com cerca de 22 horas de bolsa rota, cinco horas de trabalho de parto ativo, já implorando por uma anestesia e apenas dois centímetros de dilatação,

Alice conheceu o mundo fora da barriga às 22h57. Alice não nasceu de parto normal. A cabeça estava mal posicionada e ela não desceu para solicitar a dilatação necessária.

Mas veio direto pros meus braços, numa cena que jamais esquecerei, antes de passar por pediatra, cueiro, qualquer coisa, mesmo.

Alice hoje aos quatro meses ainda mama no peito. Com complemento, dificuldade, paciência, carinho, mas mama. Com Bernardo meu leite secou com 40 dias. Ele fez confusão de bicos com mamadeira. Mas também teve muito carinho, toque, amor, paciência.

São histórias completamente diferentes. Cada uma com sua beleza. Mostrando uma Mariana distinta a cada época. Aprendendo, evoluindo. Nascendo como mãe e me aprimorando. Passando cada obstáculo com sua graça, sua dor e seu brilho, exibindo as marcas de cada passo dado. 

Com maturidade que tenho agora, com quase 40 anos, percebo a perfeição de cada uma dessas histórias e como elas me fazem a mãe que sou hoje:

a melhor que eles têm.

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