K A S S A N D R A   &   L I Z

A gravidez nos pegou de surpresa, mas eu amei meu bebê desde o momento em que soube. 

Mais ou menos pela 6ª semana de gravidez, comecei a me sentir muito mal.

Pelos exames de sangue descobrimos que meus hormônios estavam muito altos e que eu estava com hiperêmese gravídica (algo como os sintomas da gravidez multiplicados por 300).

Passei mal até o 5º mês de gravidez. Vomitava todos os dias, desmaiei mais de 25 vezes, mal conseguia me levantar da cama e emagreci 5 kg.

Além disso, ficava extremamente irritada com as pessoas me perguntando se eu realmente queria essa gravidez, se eu não estava rejeitando o bebê e por isso vomitava tanto...

As pessoas não entendiam que a gravidez para mim era como uma virose com duração de meses. Ou seja, não dá para sorrir o tempo todo se você não consegue parar de vomitar.

Colocavam muito peso sobre mim por não entender
o momento pelo qual eu estava passando.

Tentei parto normal porque queria saber como era essa dor tão absurda que todo mundo fala.


Entrei em trabalho de parto quando completei 40 semanas de gravidez. Foram 7 horas de trabalho de parto ativo. Cheguei aos 10 cm de dilatação, tomei anestesia peridural, mas quando finalmente a Liz coroou, eu não tive mais forças para continuar, precisei ir para a cesárea.


Logo após a cesárea, o que eu mais temia sobre o parto aconteceu. Tive atonia uterina (principal causa de morte no parto). Os médicos me alertaram que eu corria risco de perder o útero ou até mesmo a vida. Foram as horas mais tensas da minha vida. Os médicos tentaram me estabilizar desde meia noite até 3 da manhã. Então fiquei em observação até às 8h, quando finalmente a hemorragia parou e decidiram que eu não precisaria ir para a UTI.

De uma forma especial, essa situação me uniu muito ao meu marido, que ficou ao meu lado o tempo todo e à minha filha, pois a sensação de ter recebido uma nova chance me deu um novo olhar para a vida. 


Com um mês e 3 dias de nascida da Liz, passei por uma depressão pós parto. Foram dias horríveis em que eu não queria segurar a minha filha e nem ouvi-la chorar.


A queda brusca dos hormônios, que estavam muito altos durante a gestação, foi parte do problema. Outro agravante foram as opiniões, sempre de boa-fé, mas intimidadoras para uma mãe de primeira viagem. Muitas "sugestões” eram inclusive controversas, dadas pela mesma pessoa. 

“Ela não está com fome?”,
e eu tinha acabado de ficar 45 minutos com ela no peito.

“Ela está sem meia, vai morrer de frio”,
e eu já havia recolocado por 20 vezes, mesmo o bebê conseguindo tirá-la!

“Ela não está com cólica?”,
quando já sei se é cólica porque fui eu quem ficou horas com ela berrando de dor.

Todo mundo tem uma sugestão para dar ou uma crítica a fazer sem perceber que essa mãe está há dias sem dormir ou comer direito e tudo que ela quer é compreensão e não mais pressão sobre ela.

Eu me deixei influenciar. Enchi-me de culpa. Senti-me fracassada, uma péssima mãe. 


Hoje já melhorei muito, especialmente com a ajuda da minha família, do meu marido, de uma amiga da família, a Tia Edna, psicóloga, e desse grupo maravilhoso de mães.


Se alguém faz uma crítica com tom de ajuda, prontamente respondo: estou conhecendo a Liz e ela está me conhecendo, juntas estamos errando e aprendendo e como se vê, estamos sobrevivendo.

Por fim, quero falar sobre minha relação com a amamentação. Se meu relato aparenta que tudo deu errado, uma coisa deu muito certo: a amamentação.


Eu não tive nenhum problema com dor ou rachaduras. Liz fez a pega correta desde o início e é o momento em que me sinto mais mãe.

Adoro amamentar. Por mim, ela mamaria o dia inteiro.

Senti um pouco de frustração quando precisei dar complemento para a minha filha que estava perdendo peso mas, aprendi a passar por isso com mais leveza, aproveitando os momentos em que ela está no peito com aquele olhar maravilhoso. Tenho certeza isso será o que sentirei mais falta quando ela crescer.

Using Format